O CAMINHANTE

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E noite. Muitas vezes é noite por aqui e eu vou sozinho. Aqui vou eu, caminhando por esta estrada de asfalto gretado morro acima, sem parar. Sim, é tudo sobre mim agora. Não sobre você. Faz dias talvez anos que deixei a área industrial, mas acho que ainda podemos avistar um ou outro pavilhão em ruínas se olharmos para trás através da escuridão. Mas não devemos, não devemos olhar para trás, há que manter a marcha... E, digamos, essas pedrinhas rolando sob meus pés e pulando para os lados, elas dão um sentido, uma ordem, um significado, elas se comunicam, elas nos trazem o futuro... a existência e todo o que fica no meio... Lá longe, vindo de um dos lados da estrada, para além das cortinas de fumaça, para além das paredes caídas, vindo das charnecas e dos pântanos, podemos ouvir algo, primeiro apenas uma voz estridente, mais como um murmúrio, um tipo de som miserável que progressivamente se torna numa orquestra canina com barítonos, sopranos, tenores e sopraninos vindos de jusante, leste e oeste. Cães vadios mutantes, sombras de agonia, fúria e transe, anunciando a presença de um estranho - minha presença, a tua ausência. Mesmo. O cheiro do meu sangue momentaneamente despertando os pecados do mundo. E você sonhando com um possível inimigo, um possível salvador, quem sabe a cor da besta. Mas eu continuo na linha, o que lá vai lá vai. O tempo passa e as vozes começam a decair, a lapidar, os latidos e ganidos se transformando em uivos distantes... E finalmente, o silêncio novamente, seus olhos permanecendo...

***

Outra era se foi, e lá no topo, no topo da encosta, um poste de luz esperando por mim, esperando por nós. Diminuo a marcha, e coçando a cabeça, finalmente olho para trás, mas nada de irregular eu noto. Então, quando me viro novamente para o poste, vejo... mais como um... aí está você, esperando por mim... eu me aproximo. Sim, é verdade, é você aqui (ali) situado nesta rocha sob este poste de luz, esperando notícias. Mas que diabos, parecemos tão parecidos, eu diria, sou eu e não tu, e adivinhem... vagarosamente a coisa desce da rocha, aproximando-se, movendo suas pernas de borracha devagar, olhando para o topo do meu ser, e eu também olhando para dentro da silhueta "dele", seus lábios tremendo, coço a cabeça novamente. Imóvel sob esta luz amarelada. Reflexos no céu, poeira estelar. Inesperadamente, aquilo que parece ser um chapéu de coco vem com o vento cair no chão lamacento entre nós dois, e, sem perder tempo, sou eu que estou avançando dois ou três passos e piso a bainha desse mesmo chapéu... e "a coisa" também dando alguns passos frente, fazendo os mesmos movimentos que eu, também pisando a aba do chapéu. Nós os dois cara contra cara, os narizes quase se tocando, os olhos ficando maiores, e só agora eu posso realmente perceber que, apesar da nossa semelhança, não somos realmente iguais. Alguns segundos de silêncio perturbador se seguem... a eternidade falando.

***

- E daí? - Quem é quem? - Sim, o quem é o quê?! - Eu sou aquele! - Você é o quê? - Sim, eu sou o que dá... - Você é o que dá o quê? - Eu sou o que dá sentido! - Você é o que dá sentido ao quê? - Eu sou o que dá sentido s suas perguntas! - Mas que perguntas?! - Quem é você e quê? - Eu? Eu sou tudo o que há entre este chapéu e essas botas! - Não é grande coisa, já estou a ver, e o que você está fazendo aqui? - Igual a você, apenas observando as vistas... - E por que você diz isso? - Porque minhas cordas vocais desejam assim... - Com muita certeza você fala! - Sim querida, tenho a verdade do meu lado... - Mas que verdade? - A verdadeira verdade. - Não é talvez a verdade chifruda? - Entendo, você se sente como uma besta e fala como um animal. - Um animal pelo menos não precisa se preocupar com o raciocínio. - Ah sim, como você sabe? - Um cachorro pode descansar em paz... - E você não descansa? - Não, eu tenho medo de machucar as flores. - Hum, bom, bom... mas você deve saber que o sofrimento é inseparável da vida. - Eu sei, eu sei, mas... - E o que mais você sabe? - Eu sei que suas intenções não são dignas... - Por que não dignas? - Porque eu vejo, tudo que você quer é explorar, virar, confundir... - E o que é indigno nisso? - Seu objetivo é a destruição... - Você está errado amigo! Só estou tentando encontrar o caminho para o castelo de areia... - E por que você acha que eu posso ajudá-lo? - Você já está ajudando... - Hum, é bom ser útil... - E o que mais posso fazer por você, irmão? - Você pode me ajudar a tirar essas botas? - Claro, agora apenas sente-se e estique a perna. - E as flores? - Veja! Você se preocupa com os passos que vai dar e não com os que já estão sob seus pés! - Eu gostaria de poder flutuar... - Não precisa ser tão ingénuo, companheiro! Podemos resolver de outra maneira... - Como? - Se você subir naquela árvore e se pendurar em um de seus galhos, eu facilmente posso fazer o trabalho que você precisa que eu faça. - E então o que você fará com as botas? - O que você quer que eu faça com elas? - Você pode fazê-los desaparecer? - Eu não sou um mágico, mas talvez eu possa enterrá-los em um buraco e... - Eu não pretendo vasculhar a terra ... \u2013 Então talvez eu possa escondê-las sob as folhas secas... - Mas ainda assim elas continuariam a existiria \u2013 Tambem posso, incendiá-las... - Talvez seja uma boa solução... - Então vamos lá. Você pode agora avançar na direcção dessa árvore, por favor? - E as flores? - Eu vou te levar nas minhas costas. - Não, eu não vou deixar você me tocar... - Então, nada feito... \u2013 Isso mesmo, nada feito, vamos esquecer tudo isso, eu já esqueci essas botas... - E você ficará aqui para sempre? - Fico aqui até encontrar uma razão... \u2013 Mas eu preciso que você venha comigo... \u2013 Com mil diabos! Para onde você quer que eu vá? - Precisamente para o castelo de areia... - Agora? - Talvez... - E por que você não vai sozinho? - Porque só você pode me ajudar a encontrar o caminho. - O que o faz pensar isso? - O motivo está estampado no seu rosto... - O que tem o meu rosto? - Vejo que você carregar a chave em si. \u2013 Há sim! Por dentro ou por fora? - Dentro e fora. - E o que está acontecendo nesse castelo de areia? - A liberdade mora lá... - Hum, então esse é o seu ponto, a liberdade? - Isso! - E o que vou receber eu para mim? - Você entenderá a verdade. - Avancemos então rápido! - Eu já não posso agora... - Mas porquê você já não pode? - A incerteza acabou de tomar conta de mim, desculpe... - Mas seu objectivo é a liberdade, e eu o levarei a isso... - Agora já não confio totalmente em você! E por que você não confia se a verdade está comigo? - Eu sinto que a incerteza é mais forte que a verdade... - Eu me sentia assim ainda agora e não sinto mais... - Você se sente livre? - Eu sou capaz de seguir em frente... - E você é capaz de fazer isso sozinho? - Não, porque o castelo é uma invenção sua. Sem você, não há castelo... - Então você acredita que minha fantasia é real? - Eu acredito que é tudo a mesma coisa... - E você acredita que a liberdade me espera? - Eu acredito... - E se eu conseguir essa coisa da liberdade, o que você vai conseguir? \u2013 eu alcançarei o tesouro escondido no castelo... - E suas botas, elas não impedirão sua partida? - Agora vou tirá-las. - E não mais tem medo de machucar as flores? - Não, na verdade, agora me sinto cheio de coragem. - Acalme-se, acalme-se... parece-me que não precisamos mais ir... - Oh deus meu ... mas porquê !? - Porque a liberdade está prestes a vir aqui agora... - Ah, e lá vem ela... - Sim, e lá vai ela! - Não pode não! - Ela já se foi sem nos notar... - Oh nossa, totalmente perdida estamos agora... - Vamos atrás dela, atrás dele, já... - Não, não e não. Era para nos encontrar mos no castelo... - Talvez ela volte... - Volte para onde? - Para o castelo... Não, não há mais castelo, sem liberdade, não há castelo... - Olha, deve haver castelo, porque eu sou a chave que te levará ao castelo... - Exactamente, a liberdade carrega com ela o castelo, para onde vai, o castelo irá... - E você viu algum castelo passando? - Não, você é quem deveria ter visto, porque você é o guia! - Eu não vi nada... - Mas qual função tem a verdade se você é cego? - Talvez a verdade seja tão cega... - Bem! E agora? - Agora eu não sei quem sou mais! - Você é o único debaixo desse chapéu. - E você, você é... você é quem está acima dessas botas, certo!? Certamente! - E você ainda poderá me ajudar? - Sim, eu vou ajudá-lo a reconstruir o castelo... - Esqueça, não quero mais ouvir falar de castelos... - Então você não precisa mais de mim? - Não, você pode ir! - Mas eu já estava aqui quando você veio ... - E? - E este é o meu território. - E tão seu quanto meu. - Não é verdade... - E o que você sabe sobre a verdade? - Fui eu quem trouxe a verdade para você. - Talvez, mas agora o dono da verdade sou eu... - E o que você fará com essa verdade? - Ainda não sei bem... tenho que pensar! - Deseja que eu tire suas botas para que você possa ter mais precisão em seu próprio pensamento? - Não há necessidade. - Você ainda tem medo de machucar as flores? - Eu não sei! - Então você não vai mais a lugar nenhum? - Por que eu devo ir? - Você queria ir atrás da liberdade... - Não, quem queria ir atrás dela era tu... - Bem, eu não preciso disso agora. - Por que não? - Porque agora eu mesmo sou a liberdade. - Bem dito, mas quem era essa beleza que passou por aqui minutos atrás? - Na verdade acho que foi o desespero! - Oh, o desespero também é uma mulher? - Verdade! - Se é verdade ou não, não é da sua conta, a verdade é do meu conhecimento... - E o que você sabe? - Eu sei que você não vai a lugar nenhum sem mim... - Cale a boca! Sou liberdade, eu vou aonde quero... - Então vá. Por que não vai? - Não estou com vontade de ir agora, meu desejo é ficar aqui, apreciando a vista... \u2013 A liberdade não faz coisas como "apreciar vistas"... \u2013 Isso sou eu quem decide... - A liberdade não toma decisões. As decisões são tomadas pela razão! - Não me diga, a razão agora é você? - Exactamente! - E o que você decide? - Eu decido que você não tem liberdade, você é o desespero... - Mas o desespero não passou por aqui ainda agora? - Não, quem passou por aqui foi fraternidade... - Oh meu Deus, essa quem é? - Essa é digamos... é a harmonia... - E por que não nos notou? - Porque não somos nada além duns tolos... - Mas você é a razão, e a razão está acima do absurdo. - Você está errado, a razão é capaz do melhor e do pior... - Ainda bem que ela não parou, já que eu sou o desespero, eu jogaria a bunda dela deste mundo... - E impossível ferir a harmonia! - Você não tem ideia do que eu sou capaz... - Ah sim, do que você pode ser capaz? - Eu posso... sou capaz de prever o futuro... - Hum, agora você é um mágico? - Com total segurança e satisfação! - E o que você prevê? - Prevejo que a harmonia passará aqui novamente correndo... - Não vejo nada chegando... - Você esquece que é cego, a verdade é cega... \u2013 Eu já não sou a verdade faz muito, amigo\u2026 Eu sou a razão, já tinha dito... - E não é a mesma coisa? - Você acha que é o desespero que leva magia? \u2013 Cale essa a boca e veja! - Sim, aí vem ela... - Veja como vem cansada! - Deus abençoe! E de que, de que tal criatura estará fugindo? - Rompendo com a minha profecia, eu havia previsto que ela se tornaria o caos... - Eu diria que ela já é um caos hiper-harmonioso... - Sua visão é ostensiva, meu diabo... \u2013 Eu sei que estou certo! - Rapidamente você será outra coisa... - Cuide bem do meu destino! - Agora você é a falsidade! - Isso não, atenção, que eu poso... - Você pode o quê? - Eu posso, eu posso matar... - Noesis? - E não sou o único... - Isso é uma acusação? - Você mentiu quando disse ter a verdade do seu lado, mentiu quando afirmou ser a liberdade, mentiu quando se apresentou no papel do desespero... - Você é que segue mentindo, eu nunca fui o desespero. O desespero passou por aqui correndo e me contou um segredo... - Que segredo, que você é um imbecil... quem passou por aqui correndo foi a tentação! - E por que eu deveria acreditar em você se sou um idiota e você está mentindo o tempo todo... - Foi você quem disse isso. Mas você não passa de um peão... - Então, quem é você? \u2013 Tome atenção, agora eu sou a beldade! E isso aí! - Oh céus! Como você justifica isso? Daí a minha incapacidade de machucar as flores, daí a minha inconstância, daqui passaram três vezes, a tentação que corria... - Mas eu não acho você bonito... - Você precisa me dar um tempo... - Eu não acredito no tempo... - Olhe para as suas rugas e você acreditará. - Por que eu deveria olhar para as minhas quando tenho as suas diante dos meus olhos? - Eu não tenho rugas, a beleza não tem rugas, tudo o que tenho são qualidades! - Você está cheio de importância agora.... - Olha quem está falando! Você se considerou um mágico... - Mais uma vez, escute direito, eu não sou mais do que o que está sob este chapéu. - Não vejo chapéu agora... - E as botas também se foram... - Porra, por que ainda estamos aqui? - Uffa, aqui onde? - Lá nas sombras!! - Puta merda! Foda-se você e suas sombras... - E também foda-se com suas pretensões e representações de merda ... - Sim, foda-se tudo... Foda-se, Foda-se, foda-se esse mundo, e o próximo... - Foda-se, foda-se! Filho de mil cadelas, tudo está fodido agora, vamos embora ...


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